«Portanto, estes aproveitados
ainda têm um tratamento e uma relação com Deus
muito terrenos e naturais.
Como não têm ainda o ouro do espírito purificado e ilustrado,
conhecem a Deus como crianças,
falam de Deus como crianças,
sabem e sentem a Deus como crianças, como diz S. Paulo.
Ainda não atingiram a perfeição,
isto é, a união da alma com Deus,
pela qual, já crescidos, operam maravilhas no seu espírito,
sendo as suas obras mais divinas do que humanas,
como se dirá mais à frente.
Deus, querendo despi-los verdadeiramente deste homem velho
e revesti-los do novo,
que não cessa de ser renovado à imagem do seu Criador,
como diz o Apóstolo,
desnuda-lhes as potências, afetos e sentidos,
quer espirituais quer sensitivos,
quer exteriores quer interiores,
deixando o entendimento às escuras,
a vontade a secas,
a memória vazia
e os afetos da alma na máxima aflição, amargura e aperto,
privando-a dos sentidos e do gosto
que antes recebia dos bens espirituais.
Esta privação constitui um dos princípios
que se requer no espírito
para que se introduza e se una nele
a forma espiritual do espírito,
que é a união de amor.»

S. João da Cruz | 1542 – 1591
II Livro da Noite. 3, 3

Jesus,
Amar-Te é trabalhar em desapegar-me,
esvaziar-me e afastar-me, por Deus,
de tudo que não é Deus,
para que seja Ele a encher todo o meu coração
e toda a minha vida.
Que purificação não exige!
Mas que assim seja.