«Aqui, a alma volta a pensar outra vez que os bens acabaram para sempre.
Não lhe basta a experiência do bem gozado após a primeira tribulação,
em que julgava não haver mais sofrimento,
para, neste segundo grau de tribulação, deixar de pensar que tudo tinha acabado
e que não se iria repetir como antes. (…)
Esta é a razão das grandes dúvidas que sofrem os que jazem no purgatório:
se sairão de lá algum dia e se as suas penas hão-de acabar.
Embora [nesta terra] gozem habitualmente das três virtudes teologais,
que são a fé, a esperança e a caridade,
o sentimento vivo das penas e da privação de Deus não lhes permite gozar a felicidade
e a consolação destas virtudes.
Apesar de terem a consciência de que amam a Deus,
isso não os consola, pois julgam que Deus não os ama e que nem de tal coisa são dignos.
Pelo contrário, como se veem privados de Deus e reduzidos às suas misérias,
julgam que há neles motivos suficientes para que Deus, com toda a razão,
os aborreça e rejeite para sempre.»

S. João da Cruz | 1542 – 1591
I Noite, 7

Jesus,
estas palavras de S. João da Cruz aplicam-se especialmente aos vivos,
mais do que aos que estão no purgatório,
mas noutra passagem este mesmo santo diz que as almas no purgatório
purificam-se lá à maneira de cá.
Tudo isto é um mistério,
mas a verdade é que o purgatório é a mais bela invenção do Teu amor.
Somos nós que escolhemos esta “espera” quando nesta vida nos faltou a confiança
e o abandono da criancinha que se sabe amada,
mesmo com as suas grandes imperfeições e pecados,
e fez a experiência do filho pródigo.
Ajuda-me a confiar sempre mais em Ti,
a não aplicar a justiça dos homens à Tua justiça
e a não olhar-Te como um justo Juiz,
mas antes como um Pai, um Amigo, um Deus cheio de compaixão e misericórdia
pelo pecador que se arrepende e confia.
Assim seja comigo também.