«Um pastorzinho, só e amargurado,
Alheio ao prazer e ao contento
Tem na sua pastora o pensamento
E o peito por amor tão magoado.
Não chora por o amor o haver chagado,
Pois não lhe dói ver-se assim afligido,
Embora o coração tenha ferido;
Mas chora por pensar ser olvidado.
Que só de se pensar já olvidado
pela bela pastora, em dor tamanha
Se deixa maltratar em terra estranha,
Seu peito por amor tão magoado.
E diz o pastorzinho: Ai, malfadado
É quem do meu amor buscou a ausência
E quem não quer gozar minha presença,
Por seu amor meu peito magoado!
E, ao fim de grande tempo, ele há trepado
Uma árvore: abriu os braços belos
E morto lá ficou, suspenso deles,
Seu peito por amor tão magoado!»
S. João da Cruz | 1542 – 1591
Poesia VI.
Jesus,
neste poema o Pastorinho és Tu e a pastora sou eu.
Persegues-me com o Teu amor,
dás-me as maiores provas desse amor,
morrendo por meu amor,
e tantas vezes estou frio,
e esquivo ao Teu infinito amor,
e mais, ingrato!
Ajuda-me a converter este coração de pedra,
com a Tua graça
e a ser mais sensível e a cair mais na conta do Teu amor
para com o Teu amor
poder amar os meus irmãos.
Assim seja.