Minhas boas tiazinhas,
Escrevo-vos antes das matinas
na nossa querida pequena cela
e gostava de ser pintora
para vos fazer um esboço do cenário que me rodeia.
Está um lindo céu todo estrelado;
a lua mergulha na nossa cela
através das vidraças geladas,
é deslumbrante;
a nossa janela dá para um pátio,
jardim interior
rodeado dos nossos grandes claustros;
no meio sobre um rochedo
destaca-se uma grande cruz.
Tudo está calmo e silencioso
e isso faz-me pensar na noite
em que nos foi dado o pequenino Jesus.
Parece-me ouvir os anjos cantar o seu doce cântico:
“Alegremo-nos, foi-nos dado um Salvador.”
Queridas tias, passaram um bom Natal?
O meu foi delicioso porque,
estais a ver,
um Natal no Carmelo, isso é único;
à noite instalei-me no coro
e foi aí que decorreu toda a minha vigília
com a Santíssima Virgem
à espera do divino Menino,
que desta vez ia nascer, não no presépio,
mas na minha alma,
nas nossas almas,
é mesmo o Emanuel,
o “Deus connosco”.»

Santa Isabel da Trindade | 1880 – 1906
Carta 187. Às suas tias Rolland. 30 de dezembro de 1903

Jesus Menino,
dá-me a graça de Te contemplar neste Natal,
não no presépio,
mas no fundo da minha alma,
do meu coração,
que apesar de ser tão pequeno e pobre
aí habitas com imensamente mais prazer
do que na manjedoura.
Bendito sejas!