«Esta noite e purificação do apetite,
ditosa para a alma,
traz-lhe muitos bens e benefícios,
apesar dela julgar que lhos retira, como dissemos.
E assim como Abraão fez uma grande festa
quando desmamou o seu filho Isaac,
assim se alegram no céu
por Deus ter retirado a esta alma as fraldas,
tê-la posto no chão
e obrigá-la a andar pelo próprio pé;
por lhe haver retirado o peito
e a alimentação doce e suave de criancinhas,
obrigando-a a comer pão com côdea
e a provar o alimento dos fortes.
Nesta aridez e trevas dos sentidos,
o alimento que se começa a dar ao espírito
é a contemplação infusa
de que falámos
porque se encontra livre e seco de gostos sensíveis.
O primeiro e principal benefício
que esta árida e escura noite da contemplação lhe provoca
é o conhecimento próprio e da sua miséria.
É verdade que normalmente as mercês
que Deus concede à alma se revestem deste conhecimento;
contudo, a aridez e o vazio
em que as potências se veem
em relação à fartura anterior,
e a dificuldade que a alma sente
para coisas boas,
levam-na e descobrir em si uma baixeza e miséria
que no tempo da prosperidade não era capaz de ver.»

S. João da Cruz | 1542 – 1591
I Noite Escura. 12. 1, 2

Jesus,
nas Tuas mãos o ressuscitar
passa pela morte,
por isso ajuda-me a não me assustar
com a minha miséria e frouxidão,
mas concede-me, Te peço,
a graça para abraçar todos esses acontecimentos
com coragem e esperança,
porque depois da morte
brota a vida nova.
Assim seja.