«[A alma] diz que se viu como pássaro solitário,
porque, nesta espécie de contemplação,
o espírito tem as mesmas propriedades do pássaro solitário, que são cinco:
Primeira, geralmente coloca-se no ponto mais alto.
Também o espírito, neste momento, fica em altíssima contemplação.
Segunda, tem sempre o bico voltado para o lado do vento.
Também o espírito, aqui, volta o bico do afeto para o lado donde vem o espírito do amor,
que é Deus.
Terceira, geralmente está sozinho e não quer nenhuma outra ave junto de si,
pois, se alguma lá poisar, vai-se logo embora.
Também o espírito, nesta contemplação,
está retirado de todas as coisas, desprendido delas,
e não consente em si nada mais do que a solidão em Deus.
Quarta, canta muito suavemente.
É isto também o que espírito faz a Deus nesta ocasião:
os louvores que Lhe dirige são de um suavíssimo amor,
muito deliciosos para si mesmo e magníficos para Deus.
Quinta, não tem cor determinada.
Assim também o espírito perfeito: neste excesso
não tem qualquer cor de afeto sensual e amor-próprio;
carece até de qualquer consideração particular sobre coisas superiores ou inferiores, […]
porque a notícia de Deus que possui é abissal, como ficou dito.»
S. João da Cruz | 1542 – 1591
Cântico Espiritual. 14 e 15, 24
Jesus,
o pássaro solitário somos nós, sou eu,
quando, pela Tua graça,
me desapego da “multidão e do barulho deste mundo”
(mesmo continuando a viver nele)
e Te peço a graça de permanecer em Ti,
e esta me é concedida.
Então experimentarei fartura de graça e grandeza de alma
para abraçar a cruz de cada dia
amando-Te e fazendo-Te amar pelos meus irmãos.
Assim seja.