«Ó Senhor meu,
quantas vezes Vos fazemos andar a braços com o demónio!
Não bastou que Vos deixásseis tomar neles
quando Vos levou ao pináculo para nos ensinardes a vencê-lo?…
Bendita seja tanta piedade e misericórdia;
que vergonha deveríamos ter nós os cristãos,
de O fazer andar cada dia a braços com tão suja besta.

Bem preciso foi, Senhor, que os tivésseis fortes;
mas como não ficaram eles fracos
de tantos tormentos que passastes na cruz?
Oh! Que tudo o que se sofre com amor torna a curar-se!
E assim creio que, se ficásseis com vida,
o mesmo que nos tínheis, tornaria a soldar vossas chagas.
Não fora mister outra medicina.
Ó Deus meu! E quem tal a pusesse em todas as coisas
que me dessem pena e trabalhos!
Que de boa vontade as desejaria se tivesse por certo
ser curada com tão salutar unguento!»

Santa Teresa de Jesus | 1515 – 1582
Caminho de Perfeição 16, 2