«O gozo e o prazer das criaturas
aumenta mais desprendendo-se delas
do que se olhar para elas com o desejo de as possuir.
Este é um cuidado a ter porque, como um laço,
amarra o espírito à terra e não lhe deixa ter o coração livre.
Pelo desapego das coisas adquire um conhecimento mais perfeito das mesmas
e, tanto natural como sobrenaturalmente, entende melhor a verdade que elas contêm.
Assim, goza-as de uma forma bem diferente,
com mais vantagens e excelências do que aquele que está apegado a elas.»

S. João da Cruz | 1542 – 1591
III Subida, 20

Jesus,
viestes falar de desprendimento,
e é esta a porta estreita,
aquilo que viestes trazer à terra e a que chamaste “contradição”.
Sim, é uma contradição pensar que se ganha em se perder.
A questão está em saber o que se ganha e o que se perde.
Sim, meu Deus, quando me apego às coisas e às criaturas fico amarrado, preso
e não sou capaz de me dar com independência,
isto é, sem me dar conta,
amo os outros não por aquilo que me dão, e não por eles mesmos
(este último amor só vem de Ti).
Só assim posso aceitar melhor os seus defeitos e até as feridas que me podem causar.
Amarei de maneira muito mais profunda
e poderei encontrar a felicidade mesmo na cruz.
Concede-me, Jesus, a graça de me relacionar com as pessoas e as coisas
em pobreza e liberdade de espírito
e assim serei introduzido na verdadeira posse do mundo,
que é a de quem nada tem e tudo possui:
“Tudo é vosso, vós sois de Cristo e Cristo é de Deus”
Assim seja.